Avaliação multidimensional do idoso: o que é e como funciona

A população mundial atravessa uma fase de transição demográfica caracterizada pelo atual processo de envelhecimento. O considerável aumento no número de pessoas idosas, sobretudo em países mais desenvolvidos, demanda uma evolução na sociedade em termos políticos, sociais, econômicos, culturais e de sistema de saúde, a fim de se ajustar a essa nova realidade.

Nesse contexto, os médicos precisam demonstrar um domínio na avaliação das pessoas acima dos 60 anos. Essa avaliação engloba fatores ambientais, sociais e biológicos que influenciam o bem-estar e a qualidade de vida. Aspectos como capacidade funcional, risco de quedas, uso de medicamentos, alimentação, atividade física, visão, audição e humor exigem atenção específica.

Os idosos apresentam características próprias, o que torna o cuidado com a saúde um processo complexo. O envelhecimento fisiológico, conhecido como senescência, é contínuo e progressivo, trazendo consigo múltiplas transformações. A senilidade, associada a doenças crônicas e morbidades, reforça a necessidade de uma abordagem integral.

Essa complexidade de problemas médicos dificulta a atenção à saúde da pessoa idosa, uma vez que alguns sintomas podem estar relacionados a vários fatores, e um processo pode mascarar e interferir no surgimento e tratamento de outros. Déficits sensoriais, demência, incontinência, instabilidade e quedas, imobilidade, desnutrição, isolamento social e depressão são problemas e condições frequentemente encontrados nesse cenário desafiador.

O que é Avaliação Multidimensional do Idoso?

Como o próprio nome sugere, a Avaliação Multidimensional do Idoso procura examinar de forma geral a saúde do indivíduo. Em vez de focar aspectos isolados da saúde e qualidade de vida, essa abordagem proporciona uma visão holística de todas as dimensões. 

A condução dessa avaliação é fundamental, pois o processo de envelhecimento aumenta a vulnerabilidade a diferentes condições crônicas. Com um acompanhamento apropriado, é viável prevenir diversos impactos e promover um envelhecimento ativo e saudável.

A avaliação também representa uma ferramenta para o planejamento de vida, contribuindo para a manutenção da qualidade do dia-a-dia da pessoa idosa.

Como funciona uma avaliação multidimensional do idoso?

Para conduzir a avaliação multidimensional do idoso, é necessário levar em conta diversos aspectos relacionados à pessoa idosa e sua saúde, levando em conta a avaliação clínica, funcional e psicossocial.

Avaliação clínica

Na avaliação clínica, realiza-se uma análise do funcionamento das questões físicas. Nesse momento, são efetuados testes de visão e audição, entre outros. A abordagem clínica também pode incorporar resultados e diagnósticos anteriores, como aqueles relacionados a condições crônicas. O objetivo é identificar possíveis dificuldades, limitações ou condições físicas que demandem atenção.

Avaliação funcional

Examinar a capacidade funcional representa um dos pontos centrais da avaliação. Através dessa análise, é possível compreender quais atividades a pessoa consegue realizar e qual é o seu nível de autonomia. São empregadas ferramentas para mensurar a capacidade de desempenho de atividades cotidianas e para monitorar o grau de dependência. Quanto maior a capacidade funcional, maior tende a ser a autonomia. A avaliação funcional pode se desdobrar em outros aspectos, como a verificação da nutrição, da capacidade de movimento dos membros superiores e inferiores, e questões relacionadas.

Avaliação psicossocial

Nesse momento, realiza-se a análise da saúde mental da pessoa idosa, buscando indícios de depressão, ansiedade ou outros problemas. Também constitui um momento voltado para compreender as relações com os familiares e o estado dos relacionamentos do paciente.

Qual a importância da avaliação multidimensional do idoso?

A Avaliação Multidimensional do Idoso proporciona a identificação das necessidades biopsicossociais do indivíduo, ou seja, o diagnóstico de suas condições de saúde, sejam agudas ou crônicas. Esse diagnóstico deve reconhecer as limitações, abordando tanto a independência e autonomia nas atividades diárias quanto o comprometimento dos sistemas funcionais principais, englobando cognição, humor, mobilidade e comunicação.

É crucial o reconhecimento das síndromes geriátricas, tais como incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incontinência e incapacidade comunicativa. Além disso, o diagnóstico deve incluir deficiências ou disfunções nos sistemas fisiológicos principais, como alterações na nutrição, sono, saúde bucal e órgãos/sistemas (doenças).

Aspectos relevantes como lazer, apoio familiar, suporte social e segurança ambiental também devem ser considerados. Identificar os problemas de saúde e os aspectos funcionais é essencial para definir intervenções, prioridades e metas terapêuticas. 

Onde fazer a avaliação multidimensional do idoso?

A avaliação multidimensional do idoso pode ser realizada em diversos locais, sendo importante considerar ambientes que contemplem a abordagem integral e holística necessária para esse processo. Alguns lugares propícios para a realização dessa avaliação incluem:

• Centros geriátricos e gerontológicos: instituições especializadas no cuidado de idosos, como centros geriátricos e gerontológicos, muitas vezes dispõem de profissionais e recursos específicos para a avaliação multidimensional. Esses centros geralmente oferecem uma abordagem interdisciplinar, envolvendo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e assistentes sociais.
• Unidades de Atenção Primária à Saúde: postos de saúde e centros de saúde que oferecem serviços de atenção básica são locais ideais para a avaliação multidimensional do idoso. As equipes de saúde nessas unidades, como os Médicos de Família e Comunidade, enfermeiros e outros profissionais de saúde, estão capacitadas para realizar uma avaliação abrangente.
• Programas de atenção domiciliar: em alguns casos, a avaliação multidimensional do idoso pode ser conduzida no próprio ambiente domiciliar. Programas de atenção domiciliar contam com profissionais de saúde que realizam visitas aos idosos em casa, permitindo uma avaliação mais próxima do contexto individual.

Conclusão

A Avaliação Multidimensional do Idoso, ao identificar as necessidades biopsicossociais, fornece uma base para a elaboração do Plano de Cuidados Individualizado. Esse plano incorpora intervenções promocionais, preventivas, curativas, paliativas e/ou reabilitadoras, visando manter ou recuperar a saúde do idoso.

Essa é uma ferramenta essencial, contribuindo não apenas para a compreensão do estado de saúde da pessoa idosa, mas também para a definição de estratégias eficazes que promovam um envelhecimento ativo e saudável. A colaboração interdisciplinar e a realização dessas avaliações em diferentes ambientes, como centros geriátricos, unidades de atenção primária à saúde e programas de atenção domiciliar, são cruciais para uma abordagem completa e integrada.

Independentemente do local escolhido, é fundamental que a avaliação multidimensional do idoso seja conduzida por profissionais de saúde qualificados e familiarizados com a complexidade e especificidades desse processo. A colaboração entre diferentes especialidades, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e assistentes sociais, é essencial para garantir uma abordagem completa e integrada.

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Referências

Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Manual de Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa para a Atenção Primária à Saúde. Disponível em: https://www.conass.org.br/biblioteca/manual-de-avaliacao-multidimensional-da-pessoa-idosa-para-a-atencao-primaria-a-saude/. Acesso em: 15/01/2024.

Secretaria da Saúde do Paraná. Avaliação Multidimensional do Idoso. Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2020-04/avaliacaomultiddoidoso_2018_atualiz.pdf. Acesso em: 15/01/2024.

Texto revisado por: 

Bianca Ferreira
Gerontóloga pela UFSCar
Mestre em Saúde Mental pela FMRP/ USP
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