Deglutição no envelhecimento
O impacto das dificuldades alimentares na vida dos 60+
A população 60+ tem crescido ativamente em nosso país e em todo o mundo, gerando grandes repercussões social, econômica e política. Estima-se que em 2025 o Brasil será o sexto país no mundo em número de idosos de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Sabemos que com o passar dos anos, durante o processo de envelhecimento, muitas são as modificações fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, impactando diretamente na audição, linguagem, fala, voz, memória, mastigação e deglutição, sendo o fonoaudiólogo o profissional responsável pela avaliação e reabilitação funcional, associados ou não às doenças que acometem essa população.
E como ter um envelhecimento saudável e alcançar a longevidade desfrutando esses anos com qualidade? É determinante que haja um processo constante de manutenção e otimização da saúde física e mental a fim de proporcionar independência, autonomia e qualidade de vida.
Assim, é fundamental que saibamos reconhecer as características do envelhecimento, identificar precocemente as alterações e fatores de risco envolvidos na perda da capacidade funcional e garantir a segurança.
Deste modo, vamos abordar sobre as dificuldades com a alimentação e seus possíveis fatores de risco e tratamentos.
A alimentação está diretamente relacionada com a função de deglutição, que é um processo complexo em que o alimento é transportado da boca até o estômago, por meio de estruturas capazes de realizar movimentos coordenados e precisos submetido a um controle neurológico.
No entanto, não se trata apenas da execução fisiológica funcional, porque comer é um ato social que envolve planejamento, cognição com memórias afetivas e gustativas, olfato, tato, temperatura, preferências, ambiente externo, apresentação do prato, etc. Além disso, é imprescindível para a manutenção de nossa vida e, qualquer desajuste que interfira numa adequada alimentação, também vai influenciar diretamente no estado físico e emocional do idoso.
Presbifagia é o nome dado às alterações neurofisiológicas da alimentação encontradas durante o envelhecimento que podem afetar a estrutura e a fisiologia da deglutição em relação à mobilidade, coordenação e sensibilidade do processo de deglutição.
Em virtude das mudanças decorrentes desse processo, é comum que os idosos saudáveis mantenham a sua funcionalidade, compensando suas perdas e ajustando-se gradativamente a elas, muitas vezes de forma até inconsciente.
As características que podemos observar são:
– recusa ou redução alimentar
– dificuldade para engolir alimentos, bebidas ou a própria saliva
– flacidez da musculatura envolvida na deglutição, tais como língua, lábios, bochechas, faringe e laringe, dificultando a mastigação de alimentos mais consistentes (sólidos, secos) e preferindo alimentos macios e úmidos que são mais fáceis de deglutir.
Exemplo clássico é a substituição por sopas, cremes, sopinha de pão.
– tosse ou engasgo durante ou após a ingestão de alimento e/ou líquidos
– sensação de comida parada na garganta
– acúmulo de alimento em cavidade oral com resíduos nos dentes e bochechas
– escape de alimento durante a refeição
– regurgitação nasal do alimento
– odinofagia (dor ao engolir)
– redução da sensação do cheiro e do sabor dos alimentos
– alteração vocal durante ou após a alimentação
Além das alterações morfológicas e funcionais citadas, o quadro ainda pode ser agravado pela perda de dentes. O uso próteses dentárias que surgiram para auxiliar nesse problema, quando mal adaptadas, podem ocasionar incômodos, dificuldades na mastigação, alteração na inteligibilidade da fala e insatisfação estética.
Muito embora manifestações isoladas não sejam caracterizadas como disfagia (distúrbio de deglutição), estudos comprovam que, com o avançar da idade, as alterações nas fases da deglutição são mais frequentes, uma vez que as doenças que podem gerar um quadro de disfagia são mais prevalentes no idoso.
Como fatores de risco para a ocorrência de disfagia, encontramos a polifarmácia (uso de vários medicamentos) agravando ou induzindo à disfagia, distúrbios clínicos agudos ou crônicos, tais como apneia obstrutiva do sono (AOS), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), COVID-19, alterações cognitivas, doenças do sistema nervoso central como AVC, Parkinson, Alzheimer, traumatismo cranioencefálico entre outras.
Em consequência dessas dificuldades, o idoso pode apresentar redução no convívio social e no prazer ao se alimentar, desnutrição, desidratação, broncoaspiração, pneumonias e consequentemente o aumento da morbimortalidade.
Diante de qualquer sinal acima citado, é de suma importância que se busque um fonoaudiólogo especialista na área de disfagia ou gerontologia para uma avaliação clínica e prevenir possíveis complicações.
Na plataforma da Bem te quero 60+ você pode realizar o agendamento de sua consulta diretamente com a especialista.
Nós oferecemos tratamentos inovadores e especializado para pessoas com dificuldades de se alimentar, pois sabemos que a intervenção precoce, logo no início dos primeiros sintomas, e a atuação personalizada para cada caso podem trazer resultados mais rápidos e promissores.
Dispomos de técnicas avançadas aliadas à fonoterapia convencional, tais como:
– neuromodulação não-invasiva: realizada por estimulação transcraniana de corrente contínua estimula diretamente o cérebro para aumentar a neuroplasticidade facilitando as conexões neurais e tendo uma reabilitação mais rápida e eficaz para os distúrbios de deglutição, memória e comunicação.
– eletroestimulação neuromuscular: para aumento de sensibilidade facial ou em toda a região orofaríngea e de fortalecimento facial.
– fotobiomodulação: laser de baixa intensidade que pode ser utilizado no local ou sistêmico atuando como antiinflamatório, facilitando os processos de cicatrização, reabilitando o olfato e paladar, aumentando a sensibilidade orofaríngea, reduzindo sialorreia (salivação excessiva) ou xerostomia (boca seca) e aumentando oxigenação e desempenho dos músculos orofaciais.
– treinamento respiratório: com uso de dispositivos terapêuticos para proporcionar o aumento da pressão subglótica, da força de tosse e da sensibilidade, proporcionando melhora na proteção pulmonar evitando engasgos e pneumonias aspirativas.
Para cada caso há uma forma de abordagem útil e necessária, traçando linhas de atuação fonoaudiológica que visam melhorar as condições de qualidade de vida e bem-estar por meio da prevenção, diagnóstico preciso e condutas terapêuticas adequadas com atenção interdisciplinar que contemple as necessidades de saúde do idoso.
Conteúdo escrito por: Dra Fabiane Couto Garcia