Cuidador: A profissão que se reiventa junto com a revolução prateada

Para começo de conversa: cuidar faz parte da nossa natureza

O ato de cuidar de alguém é instintivo no ser humano. Faz parte da nossa sobrevivência enquanto espécie, cuidar uns dos outros, proteger-nos e assegurar a perpetuação da espécie. Conforme a sociedade foi se constituindo, as mulheres assumiram a tarefa de cuidar das crianças, dos idosos e dos enfermos da família. 

Mas a história não parou por aí…

Em 1940 a expectativa de vida de um brasileiro era, em média, de 69 anos, em 2019 um indivíduo completando 50 anos poderia esperar viver em média 30 anos mais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2020). Esses dados comprovam o fenômeno que se tem observado mundialmente: A longevidade. As pessoas estão vivendo mais.

Mulheres vivem mais porque se cuidam mais

Nos países em desenvolvimento, as mulheres vivem mais que os homens, em média, 7 anos. Fatores como a violência urbana, a criminalidade e um olhar menos cuidadoso para a saúde podem ser a causa dessa diferença. Segundo o IBGE (2020) a expectativa de vida das mulheres é de 79,9 anos enquanto a dos homens é de 72,8 anos. Também por isso, observa-se muitas vezes a mulher idosa como cuidadora de cônjuge, irmãos, filhos igualmente idosos. 

Além disso, as projeções revelam que o grupo etário que mais cresce é o de pessoas com 80+. Segundo o Laboratório de Demografias e Estudos Populacionais da Universidade de Juiz de Fora, MG, idosos com 80+  que em 1950 eram 153 mil indivíduos (2% da população como um todo), em 2020 são 4,2 milhões de pessoas. E a progressão não pára. Segundo esses mesmos dados, em 2100 os 80+ deverão representar 15,6% da população.

Longeviver com qualidade é possível

De certa forma, é natural que, à medida que o ser humano atinja patamares mais elevados de idade, o declínio funcional e as mudanças biofisiológicas acompanhem essa tendência. Ao mesmo tempo, é importante lembrar que o envelhecimento é um processo multidimensional, dinâmico e heterogêneo. Ou seja, tão certo quanto ter uma impressão digital única, toda pessoa terá também uma história de envelhecimento que é só dela. 

Desafios que revelam oportunidades. A profissão de Cuidador

Com a longevidade avançando rapidamente, o predomínio das doenças crônicas e degenerativas e considerando ainda que a mulher ocupa cada dia mais espaço no mercado de trabalho, surge a figura do cuidador formal. Pessoa cuja função remunerada abrange o auxílio de todas as  atividades relacionadas ao cotidiano de uma pessoa idosa. 

A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) apresenta descrição detalhada sobre a função Cuidador de Idoso – código 5162-10, cujas competências técnicas e habilidades socioemocionais devem ser suficientes para auxiliar a pessoa idosa tanto nas atividades básicas de vida diária quanto nas instrumentais, bem como às atividades culturais, religiosas e de lazer, estimulando a autonomia e preservando a independência dos idosos pelo maior tempo possível. 

O cuidador de idoso ainda não tem a profissão regulamentada. O Projeto de Lei 1385/07 que tramitava no Congresso Nacional foi vetado em outubro de 2019. Atualmente, um grupo de trabalho contendo especialistas da área de envelhecimento, cuidadores e políticos trabalham em um novo projeto de lei. 

Enquanto a regulamentação não ocorre, as capacitações seguem no formato de curso livre sem padronização em termos de  carga horária ou nas disciplinas. Por isso é muito importante escolher um curso para cuidadores com todo cuidado e critério, baseando-se em referências confiáveis.

E, por último, mas não menos importante, é fundamental lembrar que o ato de cuidar envolve amor, solidariedade, empatia, mas também deve ser realizado com responsabilidade. E com o aumento na demanda por cuidados de longa duração, é imprescindível que o cuidador busque o aprendizado constante.

Artigo original publicado no amominhaidade.com.br, escrito por Marília Sanches, terapeuta ocupacional, especialista e mestranda em gerontologia, docente e palestrante com experiência de mais de 10 anos na capacitação e supervisão de cuidadores de idosos.