Ferida em idosos que não cicatrizam: saiba o que fazer

Ferida em idosos que não cicatrizam

Durante o processo de envelhecimento, a capacidade natural do corpo de reparar a pele danificada diminui. Em pessoas idosas, esse processo de cicatrização pode ser mais lento e repleto de complicações, impactando diretamente na qualidade de vida. 

As feridas de difícil cicatrização, complexas ou feridas crônicas como são conhecidas popularmente, são comuns em pessoas com 60 anos ou mais e apresentam um desafio clínico. Tais feridas podem surgir de ferimentos simples que, em muitas circunstâncias, cicatrizaram sem dificuldades, mas em pessoas idosas essas lesões podem evoluir para feridas persistentes devido à deterioração de processos fisiológicos essenciais para a cicatrização.

Este artigo explora as feridas que não são de difícil cicatrização em idosos e suas amplas implicações médicas. O objetivo é fornecer uma visão detalhada sobre os diferentes tipos de feridas, os fatores que influenciam a cicatrização e os cuidados no manejo dessas condições.

O que são feridas em Idosos que não cicatrizam?

Feridas que apresentam fatores que impedem a cura. São aquelas que não seguem o processo de cicatrização esperado, apresentando um estado estagnado por semanas ou, até mesmo, meses.

Diferentemente de feridas agudas, resultado de eventos traumáticos recentes, essas feridas de difícil cicatrização são frequentemente oriundas de outras condições subjacentes e deficiências sistêmicas.

O processo de cicatrização em pessoas idosas é comprometido por fatores como a diminuição da regeneração celular e alterações na vascularização, tornando a pele menos resiliente e mais suscetível a lesões prolongadas.

Tipos de feridas 

Tipos de feridas 

A pele dos maduros tende a ser mais frágil e suscetível a ferimentos que podem gerar complicações e se transformar em questões de saúde sérias. Compreender os diferentes tipos de feridas é importante para adotar estratégias adequadas de tratamento e prevenção. Com isso, entenda alguns tipos de feridas e as particularidades de cada uma. 

1. Feridas agudas ou de difícil cicatrização:

  • Feridas agudas: originam-se geralmente de traumas na pele, como cortes, contusões ou abrasões (escoriações na pele). Essas feridas têm um curso de cicatrização previsível e, com os cuidados adequados, tendem a resolver sem maiores complicações. Porém, se mal diagnosticadas ou mal administradas, podem levar a complicações. O tratamento envolve limpeza, desinfecção e proteção da área afetada.
  • Feridas de difícil cicatrização: são aquelas que não seguem o curso normal de cicatrização, ficando abertas por um período superior a três meses. Em pessoas acima dos 60 anos, essas feridas são frequentemente intensificadas por condições subjacentes como diabetes, problemas vasculares ou imobilidade prolongada. O tratamento requer uma abordagem mais complexa e frequentemente multidisciplinar.

Vale ressaltar que todas as feridas  de  difícil  cicatrização  contêm  algum  nível  de  biofilme, os quais são agregados bacterianos incorporados em uma barreira que protege os microorganismos do sistema imunológico natural do paciente e de muitos agentes antimicrobianos. Este biofilme mantém a ferida em estado inflamatório crônico e não permite sua cicatrização. 

As feridas ainda podem ser classificadas pelos tecidos envolvidos, como feridas superficiais, quando afetam apenas a epiderme, a camada mais externa da pele ou feridas profundas, que se estendem além da epiderme, alcançando a derme e, em casos mais graves, os tecidos subcutâneos mais profundos.

Estas feridas são problemáticas por haver risco aumentado de infecção e outras complicações. A gestão envolve frequentemente desbridamento (remoção de tecido morto), tratamento de qualquer infecção existente e, em alguns casos, intervenção cirúrgica para reparar os tecidos danificados.

2. Escoriações

As escoriações são feridas superficiais que afetam apenas as camadas mais externas da pele. Apesar de sua aparente simplicidade, nos maduros, mesmo essas pequenas lesões demandam atenção redobrada. A cicatrização pode ser mais lenta e suscetível a infecções devido à menor capacidade regenerativa e à possível presença de outras condições de saúde que comprometem o sistema imunológico.

3. Skin Tears

Também conhecida como lesão por fricção, é uma ferida traumática causada por forças mecânicas, incluindo a remoção de adesivos. A gravidade pode variar conforme a profundidade (não se estendendo através da camada subcutânea). Estes “rasgos da pele” podem ser espessura parcial (separação da epiderme da derme) ou serem de espessura completa (separação da epiderme, derme e estruturas subjacentes).

As estimativas de prevalência de skin tears sugerem que eles ocorrem com mais frequência do que as lesões por pressão, com uma taxa de incidência estimada de aproximadamente 15% entre pacientes com mais de 65 anos. Cerca de 80% dessas lesões ocorrem nos membros superiores. Pessoas com mais de 60 anos, com pele frágil / seca, com mobilidade prejudicada, comorbidades, polifarmácia, cognição prejudicada (sensorial, visual, auditiva) e desnutrição, apresentam maior risco para essas lesões.

4. Esmagamentos

As lesões por esmagamento ocorrem quando uma pressão intensa é aplicada sobre uma parte do corpo, comprometendo os tecidos subjacentes. Essas lesões são graves e podem levar a danos maiores, incluindo necrose (morte) do tecido, complicando o processo de cicatrização. O tratamento imediato e adequado pode minimizar as sequelas a longo prazo.

5. Ferimentos corto-contusos

Esses tipos de feridas combinam características de cortes e contusões, envolvendo tanto danos superficiais como mais profundos aos tecidos. Naqueles com 60 anos ou mais, esses ferimentos exigem uma vigilância rigorosa para evitar complicações como infecções, que podem retardar a cicatrização e exigir tratamentos invasivos, como terapias com antibióticos ou procedimentos cirúrgicos.

O que pode interferir na cicatrização de feridas em idosos?

A idade é acompanhada por uma redução natural na eficiência dos processos de reparo celular. Condições crônicas como diabetes e doenças cardiovasculares afetam diretamente a cicatrização, assim como a imunossupressão e a má circulação.

Fatores sistêmicos como nutrição inadequada, tabagismo, obesidade e má higiene também desempenham papéis críticos. O estresse emocional, lesões repetitivas, infecções e baixa atividade física também podem atrasar ou complicar o processo de cicatrização. E os fatores locais como infecção, biofilme, necrose, desequilíbrio do exsudato e as bordas inviáveis da lesão são principais barreiras do processo de cicatrização.  

Cuidados com feridas em idosos que não cicatrizam

Cuidados com feridas em idosos que não cicatrizam

No manejo de feridas que não cicatrizam em idosos, uma série de práticas devem ser implementadas para garantir a cura eficaz e prevenir futuras complicações. As principais estratégias incluem:

1. Limpeza regular

A limpeza é o primeiro passo no tratamento de qualquer ferida, ajudando a prevenir infecções e promover a cicatrização. O processo deve ser realizado com suavidade, utilizando soluções de limpeza apropriadas e sempre conforme as orientações de um profissional de saúde. A frequência da limpeza deve ser ajustada conforme a gravidade e o tipo da ferida.

 2. Proteção

Proteger a ferida de traumas adicionais e contaminação é importante. Isso inclui o uso de curativos apropriados, que cobrem a ferida e criam um ambiente propício para a cicatrização. Os curativos devem ser escolhidos com base no tipo e na condição da ferida, considerando fatores como tamanho, profundidade e nível de exsudação.

 3. Avaliação e tratamento de condições médicas subjacentes

Muitas vezes, as feridas de difícil cicatrização estão associadas a comorbidades como diabetes, doenças vasculares, canceres e imunossupressão, além de condições de imobilidade e incontinência. Portando, é necessário que essas condições sejam geridas efetivamente para facilitar o processo de cicatrização. A colaboração entre diferentes especialistas pode ser necessária para otimizar o tratamento dessas condições.

4. Controle da umidade

Manter um equilíbrio adequado de umidade pode auxiliar no manejo da ferida. Um ambiente muito seco pode retardar a cicatrização, enquanto excesso de umidade pode aumentar o risco de infecção e maceração da pele ao redor. Curativos modernos como silicone, hidrogéis, hidrofibras e espumas podem ser utilizados para manter a umidade ideal e promover a cicatrização.

 5. Remoção de tecido morto ou necrosado

O desbridamento, processo de remoção de tecido morto ou danificado da ferida, é utilizado para reduzir o risco de infecção e melhorar a eficácia dos outros tratamentos. Este procedimento deve ser realizado por profissionais capacitados e pode envolver técnicas manuais, enzimáticas ou até mesmo cirúrgicas.

6. Uso de curativos adequados

Diferentes materiais e tecnologias de curativos oferecem benefícios específicos, como controle de exsudação, proteção contra bactérias e promoção de um ambiente úmido ideal. A seleção deve ser baseada nas características específicas da ferida e nas necessidades individuais do paciente.

7. Nutrição adequada e suplementação, se necessário

Uma dieta equilibrada, rica em proteínas, vitaminas e minerais, é importante para o suporte ao processo de cicatrização. Em alguns casos, a suplementação pode ser necessária para corrigir deficiências nutricionais que podem retardar a cicatrização.

8. Consulta a especialistas

Dada a complexidade das feridas nos maduros, a consulta com especialistas é necessária. Estes profissionais podem oferecer acesso a tratamentos avançados, como coberturas de alta tecnologia, laserterapia, terapia por pressão negativa, terapias de oxigênio hiperbárico, e outros métodos que podem auxiliar na cicatrização de feridas complicadas.

Conclusão

Feridas de difícil cicatrização em idosos são complexas e requerem um manejo cuidadoso e informado. O processo natural de envelhecimento traz consigo desafios únicos que podem complicar a cicatrização.

A gestão de feridas nas pessoas idosas requer uma abordagem multidisciplinar e especializada. O envolvimento ativo de cuidadores, familiares e uma equipe de saúde diversificada é importante para assegurar que o tratamento seja eficaz e adaptado às necessidades específicas de cada pessoa. A atenção e o acompanhamento contínuo melhoram a qualidade de vida dos maduros e previnem o agravamento de condições que podem ser, em muitos casos, evitáveis.

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Referências

MSD. Lesões por pressão. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-dermatol. Acesso em: 24/05/2024.

ACVida. Ferida em idosos que não cicatrizam: orientações para cuidadores de idosos e familiares. Disponível em: https://acvida.com.br/cuidadores/ferida-em-idosos-que-nao-cicatrizam/. Acesso em: 24/05/2024.

Texto revisado por:

Liliane Pacor Pelisson
Enfermeira Especialista em Tratamento de Feridas.
Parceira da Bem te quero+

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